Acho que muita gente já viveu a situação de preparar uma refeição, considerá-la até simples e singela e no momento em que o filho, recém chegado da escola, se depara com ela diz: mãe, como você adivinhou que eu estava morrendo de vontade de comer isso? E come aquele prato com a melhor boca do mundo.
Isso já aconteceu comigo e, embora eu tenha simplesmente sorrido para o Pedro e imaginado que ele pensou que a mamãe é o máximo, estava claro para mim que eu não havia adivinhado nada, que tudo não passava de uma feliz coincidência.
No entanto, fui testemunha de um fato que me fez repensar o assunto. Aí vai ele:
No sábado fomos a uma pizzaria para comemorar o aniversário do meu cunhado, era uma mesa grande na qual também estavam uma senhora, mãe de duas filhas casadas, as respectivas filhas, os maridos delas e seus filhos pequenos. Uma das filhas disse para a mãe que estava com saudades de comer a comida dela e que no dia seguinte (domingo) iria almoçar em sua casa e queria uma comida bem gostosa, em seguida levantou-se para ir ao banheiro.
A mãe, que cozinha muito bem, pediu sugestões sobre o que deveria preparar para o almoço e recebeu sugestões de macarrão, lasanha, frango assado, risoto. Então, pensativa, ela disse: me veio a inspiração de fazer arroz, feijão preto, pernil assado e couve. Os demais entreolharam-se e duvidaram do sucesso do cardápio.
Entretanto, logo que a moça voltou do banheiro a mãe perguntou diretamente o que ela gostaria de comer. Para a surpresa da platéia curiosa, que quase soltou um oooooohhhhh, ela respondeu: acho que vocês vão estranhar mas estou com vontade de comer arroz, feijão preto e um pernilzinho. A mãe, com a mesma cara que eu suponho fazer para o Pedro, disse: uma couvinha para acompanhar? E foi uma gargalhada só...
Será que de alguma maneira que não sabemos explicar sentimos o que nossos filhos querem comer? Fiquei lembrando de que a fome é a necessidade mais primitiva do ser humano e que a mãe é obrigada a interpretar o que o recém nascido quer quando ele só sabe chorar, fazendo da mãe "leitora" de uma língua que ela desconhece, a língua do seu filho. Esta passagem da vida de qualquer par de mãe e filho deve formar algum tipo de ligação cujo resultado será a oferta de sabores que nos confortam e apaziguam.
Talvez, do primeiro momento de satisfação, aquele em que a mãe interpretou corretamente o choro do seu bebê e ofereceu a ele o leite reconfortante, se originem os nossos gostos e desejos por determinadas comidas e as vezes, muito tempo depois, as mães ainda conseguem fazer esta leitura. Um beijo a todos.
Este post está ilustrado com um fragmento do quadro Madre (1895) de Joaquín Sorolla Batisda.
5 comentários:
Oi Claudia, "conheci" vc pela tatu, e adorei seu blog, olha me emocionei com esse seu post!
Essa sensação de "adivinhar" o que nossas crias querem me acontece sempre, e olha que com 2 especies diferentes kkkkk (tenho a Maria de 8 anos e o celsinho de 6) daria muita confusao ne? mas não dá , parece que vamos adivinhando o que eles querem e tb do que vão gostar!, aqui em casa, bolo é 1/2com cobertura e 1/2 sem pq ceceu nao gosta!
Um bj
Dé
Olá Cláudia,
Gostei muito do que escreveu e concordo plenamente.
Beijos
Débora, obrigada pela visita e pelos comentários sobre seus filhotes. Deve ser divertido ter dois para agradar. Tentei te localizar mas não consegui porque se perfil está inacessível no Blogger. Se você tiver um blog deixe o nome dele. Beijo.
Lídia obrigada pela visita e pode esperar as minha passadas frequentes lá no Jardim de Sabores. Um beijo, Cláudia.
Claudia,
que lindo esse post. Vi seu recado no Mangia e resolvi conhecer sua casa também. Adorei as receitas, seu jeito de escrever e ainda mais sua percepção de mundo.
Voltarei várias vezes!
Um abraço e parabéns pelo cantinho!
www.mangiachetefabene.wordpress.com
Claudia,
que lindo esse post. Vi seu recado no Mangia e resolvi conhecer sua casa também. Adorei as receitas, seu jeito de escrever e ainda mais sua percepção de mundo.
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